segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

JARDIM : UMA CIDADE BICENTENÁRIA

IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTONIO
      JARDIM: UMA CIDADE BICENTENÁRIA
Dia 3 de janeiro de 1816, desmembrada da vila do Crato em 1814, surgiu Santo Antonio da Barra do Jardim, segunda vila do Cariri e décima sexta da Capitania do Ceará Grande, então governada pelo celebrado Governador Manoel Ignácio de Sampaio.
Segundo João Brígido dos Santos, no famoso compêndio histórico Ceará (Homens e Fatos), edições Demócrito Rocha, 2001, a povoação nasceu em 1792, ano de grande calamidade em todo Nordeste por conta de grave seca. O aldeamento primitivo teve início sob o signo da cruz e da espada manejadas pelo calejado padre baiano João Bandeira de Melo, armado bandeirante e descobridor de sertões bravios do Ceará, Piauí e Maranhão. Vinte e dois anos depois a novel povoação foi palco de lendária disputa de poder entre dois potentados caririenses, o valente e impetuoso capitão-mor do Cariri, José Pereira Filgueiras, suserano da vila do Crato versus José Alexandre Correa Arnaud, culto, inteligente e diligente sargento-mor residente no então povoado de Missão Velha.
Por conta dessa verdadeira luta de titãs, sentindo-se injustiçado pelo Governador Sampaio, que na causa fora favorável ao influente rival, José Alexandre partiu em penosa viagem ao Rio de Janeiro, onde logrou entrevistar-se pessoalmente na corte com o Príncipe Regente Dom João. Dessa empreitada exitosa obteve de sua Alteza Real não só autorização para erigir em vila a povoação Barra do Jardim, como sua nomeação ao posto de capitão-mor da nova unidade político-administrativa da Capitania do Ceará Grande.
Com efeito, o Alvará Régio datado de 30 de agosto de 1814 assegurou autonomia político-administrativa da nova unidade nos seguintes termos: “Hei por bem crear na referida Villa dous Juízes Ordinários, um Juiz dos Orphãos, três Vereadores, um Procurador do Concelho, dous Almotacés, dous Tabeliães do Público Judicial e Notas, um Alcaide e um Escrivão a seu cargo...” No mesmo documento, mandou levantar o Pelourinho, símbolo do poder real, a Casa da Câmara, Cadeia e Oficinas do Conselho, legando sesmaria de uma légua quadrada de terra para formação do patrimônio da nova vila, a ser aforado em pequenas porções pela Câmara, com cobrança de foros e laudêmios.
A burocracia, distância e precários meios de transportes dos tempos imemoriais atrasaram em quase dois anos a instalação da vila, interregno no qual faleceu o capitão-mor José Alexandre. A cerimônia solene de instalação, descreve João Brigído, foi presidida pelo Ouvidor Geral do Ceará, João Antônio Rodrigues de Carvalho, deslocado de Fortaleza com essa especial finalidade. Como era costume, a distinta comitiva da mais poderosa autoridade judiciária da capitania foi acolhida à entrada da povoação pelo novo capitão-mor, Pedro Tavares Munis, acompanhado de 26 pessoas da cidade montadas em cavalos ricamente ajaezados. Conduzida ao modesto centro urbano, a vila foi instalada ao grito de “real, real, viva o Sr. D. João, príncipe regente de Portugal”, brado repetido três vezes pelo meirinho de ordem do ouvidor Carvalho, e respondido com igual afirmação e entusiasmo pelo povo que ali acorrera para testemunhar o espetacular acontecimento.
Estava assim criada a vila implantada no centro da concha verde formada entre os rios Jardim e Jacundá, situada na vertente meridional da Chapada do Araripe, que seria palco de grandes episódios históricos posteriores, como sua participação na Revolução Pernambucana de 1817, na Confederação do Equador de 1824 e no movimento pelo retorno de D. Pedro I ao trono do Brasil, chefiado pelo coronel Joaquim Pinto Madeira secundado pelo Padre Antônio Manoel de Souza, conhecido por “benze-cacetes”.
O status de cidade, a vila só veio ostentar cerca de sessenta e três anos depois, ao ser editada a Lei Provincial de 08 de setembro de 1879. Berço de grandes personalidades políticas, religiosas e culturais, desde o nascedouro Jardim parecia mais geográfica, social e economicamente ligado à capitania de Pernambuco. Muitas famílias fundadoras e outras que chegaram após o descobrimento, foram atraídas dos áridos sertões pernambucanos pelo clima agradável, terras férteis e abundância de água potável, plantando raízes que ainda resistem à voragem do tempo. Trinta anos após o descobrimento, mudas de cana-de-açúcar trazidas de Pernambuco e dezenas de engenhos de rapadura movidos à tração animal e água mantiveram a economia local durante um século e meio, até ser extinta com o advento da usina de açúcar de Barbalha.
Com efeito, as dificuldades de acesso à capital alencarina, bloqueado pelos contrafortes da “serra do Araripe”, obstáculo natural que ainda hoje barra ventos úmidos que sopram da Zona da Mata pernambucana responsável pelo clima ameno, compensavam longas viagens para o Recife, entreposto de mercadorias da Europa e outras praças, as viagens a passeio e de estudos para a mocidade sedenta de conhecimento ainda não disponível na região. Felizmente, esse intercâmbio foi posteriormente redirecionado para Fortaleza, onde a colônia jardinense hoje se abriga para o trabalho, estudo, moradia e turismo, mantendo as bases de sua cultura puramente cearense, sem olvidar a contribuição do próspero estado vizinho.
Para concluir, brinda-nos a poetiza jardinense Zenith Feitosa, outrora professora e ativa participante do movimento cultural de Fortaleza, hoje falecida, com o seu poema evocativo das belezas que cercam a terra jardinense:
“Descalço as sandálias de minha alma,
À soleira do Vale da Beleza...
Sussurro ao coração: silêncio! Calma!
Aqui é o solo sacrossanto;
Aqui se encerra a mística do Encanto,
- divina é a Natureza!”
Texto de Dr. Herton Ferreira Cabral




PRAÇA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS




ESTATUA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS





IMAGEM FEITA DO SÍTIO BOA VISTA


ALTAR DA IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTONIO 


SÍTIO BOA VISTA

VISTA DO CRUZEIRO MÃE BAIOCA
VISTA ENGENHO SEU CHICO NOVAIS

VISTA PANORÂMICA DA CIDADE DE JARDIM CE








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